quinta-feira, 30 de junho de 2011

Fernando Henrique recebe homenagem no Senado por seu aniversário de 80 anos

Publicada em 30/06/2011 às 12h43m
Luiza Damé (luiza@bsb.oglobo.com.br) e Isabel Braga (isabraga@bsb.oglobo.com.br) Fernando Henrique é homenageado no Senado - Foto de André Coelho
BRASÍLIA - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi saudado com festa nesta quinta-feira, em homenagem no Senado aos seus 80 anos completados recentemente. Com auditório completamente lotado uma claque gritava: "obrigado FHC, o Brasil melhorou com você" e "orgulho nacional fez o Plano Real". A homenagem é suprapartidária.
MULTIMÍDIA: Confira o especial sobre a trajetória política de FH
FH agradeceu o carinho e, brincando, disse que já morreu, uma vez que no Brasil só se fala bem de alguém morto. Ele também agradeceu a presidente Dilma Rousseff pela carta em que ela o parabeniza pelos 80 anos.
Eu já morri: no Brasil só se fala bem quando morre, sensação estranha
- Eu já morri: no Brasil só se fala bem quando morre, sensação estranha - disse.
- Fiquei muito feliz com a carta da presidente. Somos brasileiros, temos que nos entender - declarou.
O ex-presidente disse também que, aos 80 anos, se sente mais jovem do que quando era mais novo.
- Eu quando jovem era mais velho do que sou hoje. Jovem muito certinho, desajeitoso nos esportes. Era feioso, me fechava nos livros. Hoje me sinto mais jovem do que me sentia naquela época, essa espécie de renascimento aos 80 anos. Na medida do possível tentarei. Vai ser difícil, mas tentarei os conselhos e impulsos despertados aqui - disse, acrecentando:
- A essa altura só quero uma coisa: ser amado e amar. Eu amo vocês, sou amado, sou feliz.
Fiquei muito feliz com a carta da presidente. Somos brasileiros, temos que nos entender
Fernando Henrique fez ainda um balanço de sua vida, dizendo que é natural ter menos ambição atualmente
- Quando chega um momento da vida, me despir de ambição pessoal é fácil. Ganhei tanto nesta vida, quase sem perceber, quase sem ter lutado, nunca imaginei que seria presidente disse.
'Não poderia nunca não estar aqui para prestar essa homenagem', diz Marco MaiaO presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT-RS), disse que, apesar das divergências políticas, não poderia deixar de prestar homenagem ao ex-presidente. Maia ressaltou o papel de FH para a democratização do país.
- É na essência de sua trajetória, um democrata, um homem que lutou e que fez a sua história, uma história de luta pela democracia no nosso país. Eu não poderia nunca não estar aqui para prestar essa homenagem neste ano que completa 80 anos de vida - afirmou Maia.
Diante do gesto, o ex-presidente disse considerar importante a manifestação do presidente da Câmara:
- Achei importante que ele tivesse vindo. Foi bom - afirmou ele, que disse também que o Brasil precisa seguir avançando .
Perguntado se considerava que esse gesto e a carta enviada pela presidente Dilma Rousseff parabenizando-o pelo aniversário poderiam distensionar o ambiente de rixa entre PT e PSDB no governo Lula, ele respondeu:
- Eu espero.
Fernando Henrique disse ainda que gostou de ter voltado ao Congresso Nacional. Bastante assediado, ele tirou fotos até entrar no carro.
Jingle é exibido com autorização de Chico Buarque O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi homenageado no Senado, por ocasião de seus 80 anos - Agência Brasil O governador de Alagoas, Teotônio Vilela (PSDB), destacou a vida política de Fernando Henrique como líder partidário, fundador e construtor do PSDB. Ele também lembrou o espírito corajoso do ex-presidente na defesa de temas polêmicos como a descriminação da maconha:
- Fernando Henrique nos ensina que ninguém deve aceitar ser ex-vivo em vida. Nesta homenagem do seu partido, no Senado Federal, nestes aplausos que lhe são dedicados como tributo sincero, digo-lhe, sem medo de errar, você, com seus exemplos, sua coragem, coragem cidadã, sua alma inovadora, sua profundidade intelectual é quem nos homenageia, ao manter a chama da cidadania.
Foram convidados políticos de todos os partidos para a comemoração de três horas, sob o comando da atriz Fernanda Montenegro. Fernando Henrique está em Brasília desde a tarde de terça-feira.
Coube ao presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), fazer a abertura do evento e, em seguida, passar o comando da festa para Fernanda Montenegro. Foi apresentado um vídeo de oito minutos com a história de Fernando Henrique. Entre um orador e outro foram reproduzidos jingles das campanhas do ex-presidente para o Senado, para a prefeitura de São Paulo e para a Presidência da República.
O ponto alto foi a apresentação do clipe do samba "Vai passar" , gravado pelo cantor e compositor Chico Buarque, para a campanha eleitoral de 1985, quando Fernando Henrique disputou a prefeitura de São Paulo e foi derrotado por Jânio Quadros. A exibição foi autorizada pelo cantor.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o ex-governador José Serra - que foi ministro do Planejamento e da Saúde no governo Fernando Henrique - estão em Brasília desde a tarde de quarta-feira. Também estão na capital federal governadores tucanos, ministros do governo Fernando Henrique (1995/2002) e representantes da base aliada, incluindo ministros, deputados, senadores, governadores e prefeitos.
O vice Michel Temer, que foi líder do PMDB e presidente da Câmara no período em que Fernando Henrique presidiu o país, compareceu ao evento, além do senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que foi governador do Distrito Federal de 1995 a 1998.

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/pais/mat/2011/06/29/fernando-henrique-recebe-homenagem-no-senado-por-seu-aniversario-de-80-anos-924797558.asp#ixzz1QmwLMydO
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sábado, 18 de junho de 2011

FHC 80 ! (Entrevista para Augusto Nunes)

Fernando Henrique faz 80 anos esta semana e os veículos de midia repercutem e comemoram o trabalho de uma vida inteira dedicada a estudar, pensar e mudar o país.

A entrevista em 4 blocos para o  Augusto Nunes (VEJA) é imperdivel.

FHC / Augusto Nunes * VEJA

sexta-feira, 17 de junho de 2011

FH se reinventa aos 80 por Merval Pereira

Merval Pereira, O Globo
O Supremo Tribunal Federal tem se colocado na vanguarda da sociedade brasileira no campo dos costumes ao aprovar, nos últimos dias, questões polêmicas como a união estável entre homossexuais e a permissão da defesa pública da legalização da maconha, retirando desse movimento o caráter de apologia de crime.
A decisão do Supremo chega no mesmo momento político em que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso está nos cinemas ancorando o documentário "Rompendo tabus", em que debate com diversas personalidades mundiais sua mais recente cruzada, a da regulamentação do uso da maconha, com o objetivo de descriminalizá-lo.
A Comissão Global sobre Drogas, que ele coordena, vai mais adiante e tem uma clara tendência de trabalhar pela legalização e regulamentação do uso da maconha como a melhor maneira de combater o tráfico de drogas e suas consequências.
Esse, porém, é um passo adiante do já dado pela Comissão Latino-Americana, que, além do ex-presidente brasileiro, tem na sua coordenação os ex-presidentes César Gaviria, da Colômbia, e Ernesto Zedillo, do México, e defendeu a descriminalização da maconha, por ser a droga de uso amplamente majoritário no mundo (90% do consumo mundial de drogas) e, ao mesmo tempo, cujos malefícios podem ser comparados aos do álcool e do tabaco.
Fazem parte da Comissão Global políticos como Javier Solana, ex-secretário-geral da Otan e ex-alto representante para a Política Externa e de Segurança Comum da União Europeia; Ruth Dreifuss, ex-presidente da Suíça ; George Schultz, ex-secretário do Tesouro dos Estados Unidos; e empresários como Richard Branson, fundador do grupo Virgin e ativista de causas sociais, e John Whitehead, banqueiro e presidente da fundação que construiu o memorial no lugar do World Trade Center, além de intelectuais como os escritores Carlos Fuentes, do México, e Mario Vargas Llosa, do Peru, prêmio Nobel de Literatura.
Essa nova frente de luta na formulação de políticas públicas encontra o sociólogo e político Fernando Henrique Cardoso em plena forma aos 80 anos, que completa amanhã, mas que vem sendo comemorado em diversos eventos nos últimos dias.
O ex-presidente tem sentido nas suas andanças pelo país a simpatia dos jovens, a maior parte dos quais nem mesmo tinha idade para avaliações políticas mais profundas quando o tucano estava no poder, 16 anos atrás.
O sociólogo e analista de opinião Antonio Lavareda considera que esses jovens tinham uma imagem deformada do ex-presidente pela luta política com o também ex-presidente Lula, que demonizou a atuação de seu adversário nos últimos anos, e agora se aproximam dele através da campanha para a descriminalização das drogas.
Fernando Henrique tem tido também uma visão mais moderna do que a maioria de seus pares sobre a importância das novas mídias na atuação política.
Uma pesquisa realizada em parceria entre a agência Box1824 e o Instituto Datafolha mostra que os jovens brasileiros não levam em consideração os partidos na hora de optar por instrumentos de engajamento político, ao mesmo tempo em que cada vez mais valorizam a internet como ferramenta para esse tipo de mobilização.
Pois FH escreveu, em seu polêmico artigo "O papel da oposição" na revista "Interesse Nacional", que a tarefa das oposições seria utilizar essas ferramentas para tentar atrair seus usuários, em vez das modorrentas e burocráticas reuniões partidárias que só fazem afastar os cidadãos comuns da atividade política.
Nessa recente pesquisa entre jovens de 18 a 24 anos, ficou claro, segundo o sociólogo Gabriel Milanez, pesquisador da Box1824, que, para o jovem, a política institucional partidária não é uma solução, eles buscam um novo modelo, com ações do dia a dia, conectando-se a grupos diferentes por meio das mídias sociais.
De manifestações simbólicas que nasceram pela internet e foram para as ruas, um dos melhores exemplos são justamente as marchas pela legalização da maconha organizadas em vários estados do país.
O ex-presidente Fernando Henrique, no seu já famoso artigo que o líder petista José Dirceu promete rebater através da mesma revista, defende a tese de que as oposições têm que se aproximar das "diversas classes médias, de novas classes possuidoras (empresários de novo tipo e mais jovens), de profissionais das atividades contemporâneas ligadas à TI (tecnologia da informação) e ao entretenimento, aos novos serviços espalhados pelo Brasil afora".
Um público que, na avaliação de FH, estaria mais conectado às novas mídias sociais do que à atividade partidária, embora faça política o tempo todo, sem que os políticos tradicionais se deem conta disso.
O ex-presidente é amigo e uma espécie de guru do sociólogo Manuel Castells, da Universidade Southern California, nos Estados Unidos, um dos maiores estudiosos da nova sociedade civil que vem se organizando através das novas mídias, em condições de existir independentemente das instituições políticas e do sistema de comunicação de massa.
Justamente por isso, Fernando Henrique chama a atenção de seus pares para que não deixem sem acompanhamento essa legião de usuários da internet e seus derivados, que descobriu a força da união digital, mas não se liga na ação política através dos partidos.
Castells identifica um "vazio de representação" provocado pelo descrédito da classe política, especialmente junto aos jovens, que a ação através das novas mídias sociais procura preencher.
FH, ao contrário, quer que as oposições ocupem esse espaço se conectando com os integrantes da chamada Geração Y que trabalham com a ideia de organização e debate para decisões coletivas, como identificou Castells.
Como se vê, aos 80 anos, Fernando Henrique Cardoso está novamente na vanguarda dos movimentos sociais, reinventando a si mesmo.

domingo, 12 de junho de 2011

FHC80 * Uma homenagem bem legal

Ficou muito boa a homenagem com uma diversidade muito grande de pessoas comentando o aniversário de FHC... Muito bonito envelhecer com altivez, dignidade e atividade intelectual.
Uma dica é a inquietude que FHC mostra ao discutir com sinceridade e leveza questões muito sérias que vão além do tempo político que é de eleição em eleição... E nisto FHC provou que para ele é mais importante a sinceridade e a consistência do pensamento do que agradar a média que forma maioria no voto...
FHC escolheu ser farol o que pode ser solitário, mas indica o caminho para muitos...

domingo, 5 de junho de 2011

Novos desafios (FHC , blog do Noblat)

Novos desafios

Se quisermos jogar na grande cena mundial, é preciso líderes à altura
Passados os momentos de euforia por havermos ingressado no clube dos que tomam decisões no mundo (e não nos esqueçamos que o G-20 começou como encontro entre ministros da Fazenda quando Pedro Malan ainda exercia a função), começam as dores de cabeça e as indefinições criadas pela nova situação. Se a essas juntarmos as advindas da política doméstica, não são poucos os enigmas e incertezas que temos pela frente.
O mundo se está reordenando. A liderança norte-americana, com Obama, evita a arrogância e começa a aceitar novas parcerias. Ainda agora, ao proclamar que a melhora de posição dos Brics e demais países emergentes não põe a perigo a predominância anglo-saxã, não disse isso como ameaça, mas como conselho aos seus: não temam o que está surgindo, porque surgirá de qualquer modo e é melhor ter aliados do que inventar inimigos.
Diante dos novos atores políticos no norte da África e no Oriente Médio, a atitude americana está sendo marcada por um encorajamento democrático discreto como há tempos não víamos.
É cedo para saber até onde irá esse bafejo de idealismo pragmático e também para ver até que ponto evoluirá a situação dos países recém-ansiosos por liberalização.
De qualquer modo, a situação internacional é distinta daquela aterradora da era Bush. O que não quer dizer que o futuro será melhor.
Depende de muita coisa. De os Estados Unidos superarem a crise financeira, pois o desemprego continua enorme, e o gasto público, descontrolado. De a Europa mostrar ser capaz de suportar as agruras de uma austeridade “germânica” sem romper a coesão social produzida pelo modelo democrático e próspero sonhado pela União Europeia. De a China continuar a crescer e dar pitadas de bem-estar ao povo.
Mesmo que tudo isso se realize da melhor maneira, sobram dúvidas. Que farão Estados Unidos e China, gigantes em comparação com as demais economias e Estados em expansão, jogarão como um Duo gestor do mundo?
Haverá um G-2 com suas economias complementares impondo seus interesses ao conjunto do planeta? Ou então, Estados Unidos e Europa imporão seu predomínio, como tentam fazer agora na sucessão do FMI?
E nós nisso tudo?
As incertezas pesam e tornam necessárias estratégias de convergência doméstica e lucidez para organizar alianças internacionais. Dado o caráter dos interesses globais que ora unem ora repelem alianças entre os Três Grandes, o necessário é que participemos da grande cena mundial sem ilusões ideológicas e com muita coesão interna.
Para tanto, precisamos de uma estratégia consensual e de determinação política. Estratégia consensual não é um “projeto nacional”, expressão que, em geral, significa o Estado conduzindo o povo para objetivos definidos por um partido ou um grupo de ideólogos.
Não é disso que precisamos, mas de um consenso enraizado na sociedade sobre questões decisivas, sem supor adesão a governos nem oposições aquietadas.
Com a globalização, os condicionantes geográficos não nos limitam como no passado. Não há por que nos cingirmos ao “Ocidente”, ao Hemisfério ou mesmo à América do Sul. Mas temos outros condicionantes.
A demografia impõe-nos desafios com o crescimento da população adulta e idosa. Há que criar empregos de qualidade para sustentar tal tipo de população. É certo também que aprendemos a amar a liberdade e a desejar uma sociedade com crescente participação de todos no bem-estar e nas decisões.
Por fim, os imperativos de preservação do meio ambiente e da criação de uma economia baseada em energias de baixo consumo de carbono são onipresentes.
Não adianta, pois, sonhar com o “estilo chinês” de crescimento, pois o afã de liberdade e consumo impede tal proeza. Nem imaginar que a expansão econômica baseada na exportação de minérios e produtos alimentícios gerará, por si só, a quantidade e a qualidade de valor agregado necessário para distribuir melhor o bolo, que é o que queremos.
Tampouco faz sentido limitarmos nossas alianças a este ou àquele parceiro: elas deverão ser com quem nos ofereça vantagens de conhecimento (tecnológico, científico, organizacional) que permitam apropriar-nos do que de melhor há no mundo.
É imperativo inovar, não abrir mão da indústria e oferecer serviços em quantidade e qualidade em saúde, educação, transportes, finanças, etc. Aproveitar, mas ir além do que as commodities nos permitem alcançar.
Nosso caminho será o da democracia. Ela não é um obstáculo. É parte inseparável do desenvolvimento, como valor e como “método”. Por isso é preciso aumentar a transparência das decisões e debater com o país os passos decisivos para o futuro.
É aí que pecamos. Desde o governo Lula, a modo do autoritarismo militar, as decisões fundamentais são tomadas sem debate pelo Congresso e pelo país (mudança da lei do petróleo, decisões na política energética, especialmente na nuclear, reaparelhamento militar, não decisões sobre a infraestrutura por medo das privatizações, ou pior, decisões com abuso de subsídios, como no caso do trem.
Quando o governo da presidente Dilma parecia dar passos certos para ajustar a política internacional e começava a permitir que o debate sobre as grandes questões nacionais se deslocasse do plano miúdo das divergências eleitorais, vem de novo “Seu Mestre” (que prometera ficar calado como ex-presidente) e joga em solo corriqueiro as questões políticas.
Em vez de se preocupar com a veracidade do que transpareceu, acusa irresponsavelmente o PSDB pelo vazamento de informações relativas à evolução patrimonial do principal ministro do governo. E passa a operar a disputa por cargos e troca de votos no Congresso, ofuscando sua sucessora.
Em vez de um passo à frente, mais um passo atrás no amadurecimento da sociedade e da política, que volta a se apequenar no jogo rasteiro de chantagens e pressões. No lugar de o líder sustentar valores, temos o retorno da metamorfose ambulante operando com o costumeiro desdém aos princípios.
Assim será difícil uma nação com tantas virtudes alcançar a maturidade que as condições materiais começam a tornar possível. É preciso lideranças à altura se quisermos jogar na grande cena mundial.
Presidente Dilma, não desperdice sua chance!