sábado, 1 de janeiro de 2011

Saudades e torcida !

2011 começa com a posse de Dilma, torcemos todos para que ela seja muito bem sucedida e que o Brasil possa encontrar com o futuro que os brasileiros merecem, com paz (segurança publica), saúde (ai o SUS !), prosperidade (empregos e XO inflação !) e esperança de um futuro melhor (educação).
Mas que dá saudades dá, veja as lembranças de Fernando Henrique com o dia de sua posse....
(da coluna do Ricaro Setti em Veja.com,br)

Dilma toma posse amanhã. E Fernando Henrique descreve as emoções do dia em que ele assumiu a Presidência


FHC, no dia da posse: "Ao subir no Rolls-Royce, me vinham pensamentos e sentimentos sobre a imensa responsabilidade que teria dali por diante"
A presidente eleita, Dilma Rousseff, toma posse amanhã, no Congresso Nacional, e depois recebe a faixa presidencial das mãos do presidente Lula, no Palácio do Planalto.
Só um presidente da República até hoje descreveu com detalhes a solenidade de sua própria posse: Fernando Henrique Cardoso, empossado pelo Congresso para seu primeiro mandato no dia 1º de janeiro de 1995, e que no mesmo dia recebeu a faixa presidencial de seu antecessor, o presidente Itamar Franco (1992-1995).
Leia agora o interessante depoimento do ex-presidente FHC sobre a solenidade e as emoções que elas lhe provocaram.
O texto é parte das memórias políticas do ex-presidente, A Arte da Política — A História que Vivi (Editora Civilização Brasileira, 2006, 700 páginas), na qual, contratado pela editora, trabalhei junto a FHC durante 6 meses, entre 2005 e 2006.
UM DIA CARREGADO DE EMOÇÃO
“O dia da posse não poderia ser mais carregado de emoção. Deixei o Alvorada num veículo da Presidência, escoltado por carros da segurança e por motociclistas. Diante da Catedral de Brasília, a comitiva parou para que eu e o vice-presidente eleito, Marco Maciel, subíssemos no Rolls-Royce presidencial.
“Como é de tradição, acompanhava-nos, no banco da frente, o futuro chefe da Casa Militar, general-de-divisão Alberto Cardoso (Embora tenhamos o mesmo sobrenome, o general Cardoso não tem relações de parentesco comigo). Ruth e Ana Maria, esposa de Marco Maciel, não seguiram neste carro.
“Em certo sentido, Brasília é anticlímax para tais solenidades, não só por seus enormes espaços vazios, mas especialmente porque a Constituição, talvez em momento infeliz, fixou a posse para o dia 1º de janeiro.
“Sendo o primeiro dia do ano, por vezes em meio a um feriado prolongado, torna inviável o comparecimento de muitos chefes de Estado e de governo que poderiam conferir ainda maior peso e importância à data. Mesmo personalidades da iniciativa privada, do mundo da cultura, parlamentares e até os novos governadores — empossados no mesmo dia — acabam encontrando dificuldade para comparecer a Brasília.
“Além disso, a cidade não vivia um daqueles dias luminosos de hábito, com um céu esplêndido sem nuvens: pelo contrário, caía uma garoa intermitente.
“Mas o tempo incerto não impediu que uma considerável multidão se concentrasse na Esplanada dos Ministérios, nas proximidades do Congresso e na Praça dos Três Poderes. A garoa dava folga aqui e ali, de modo que foi possível manter baixada a capota do Rolls-Royce conversível. De pé, eu e Marco acenávamos para o público durante o pequeno desfile até a porta do Congresso, onde seríamos empossados em sessão solene.
A AFETIVIDADE E O CALOR HUMANO SÃO MAIS FORTES DO QUE O RITUAL
“Tudo nesse dia é ritual, e ritual rígido, produto de um trabalho conjunto do Cerimonial do Palácio do Planalto e dos diplomatas do Itamaraty, que previamente nos instruíram a respeito de cada passo e, durante o dia inteiro, diante de qualquer pequena hesitação minha ou de Marco, nos conduziam com indicações discretas.
“Subimos a rampa do Congresso, recebidos pelos presidentes do Senado e da Câmara e, no grande Salão Negro, nos esperavam os líderes partidários.
“Daí, com dificuldade devido à massa que se comprimia no Salão Negro, aos poucos seguimos para o plenário da Câmara, que é também o do Congresso, para o solene juramento à Constituição, a assinatura do termo de posse diante, também, do presidente do STF, e meu discurso, já como Presidente da República.
“No Brasil não temos muito o gosto pelos rituais solenes. Há sempre um pouco de desordem, até de tumulto. Naquele dia, no Congresso, as pessoas avançavam em minha direção, queriam me abraçar, me cumprimentar, dar uma palavra ou um sorriso, para desalento e preocupação dos diplomatas.
“Algo semelhante se dera durante o desfile no Rolls-Royce, e voltaria a ocorrer quando da transmissão do cargo de Itamar para mim, no Palácio do Planalto. Embora possam prejudicar os detalhes do espetáculo programado, a afetividade e o calor humano, em nosso país, são mais fortes do que o ritual.
“Com tumulto ou com um pouco de desordem, o certo é que uma poderosa emoção tomou conta de mim à medida que o veículo que me trazia do Alvorada ia se aproximando da Catedral de Brasília.
“A CARGA E O PESO DA HISTÓRIA SE FIZERAM SENTIR SOBRE MEUS OMBROS”
“Ao subir no Rolls-Royce, me vinham pensamentos e sentimentos sobre a imensa responsabilidade que teria dali por diante, e interrogações sobre o que seria de meu governo, o que iria acontecer nos próximos quatro anos e o que eu poderia fazer pelo país. Toda a carga simbólica e o peso da História e de sua continuidade me vieram à mente e começaram a se fazer sentir sobre meus ombros: o próprio Rolls-Royce, que o Presidente Getúlio Vargas recebeu como presente de empresários e transferiu ao patrimônio público em 1953, servira a Vargas, a Juscelino…
“Esse sentido de História continuou me acompanhando pelo dia afora, reforçado por outro fato simbólico: assinei o termo de posse no Congresso com uma caneta Sheaffer’s dourada que Vargas dera ao segundo ministro da Guerra de seu governo constitucional (1951-1954), general Ciro do Espírito Santo Cardoso, primo-irmão de meu pai, e presenteada a mim por seu filho, meu primo, embaixador Ciro Filho.
“À saída do Congresso, já empossado, novas solenidades tocantes: perfilados, Marco Maciel e eu ouvimos o Hino Nacional executado por uma banda militar, enquanto troava uma salva de 21 tiros de canhão e a Esquadrilha da Fumaça da Força Aérea Brasileira (FAB) marcava o céu com listras verdes e amarelas. Tornamos ao Rolls-Royce para o pequeno trajeto do Congresso ao Planalto.

FHC e Itamar durante a passagem da faixa presidencial: "Tanto o Presidente Itamar como eu estávamos profundamente emocionados"
O ABRAÇO APERTADO DO PRESIDENTE ITAMAR
“Subi a rampa com Marco, sua esposa, Ana Maria, e Ruth. Itamar esperava à porta. Na passagem da faixa presidencial — outro elemento poderosamente evocativo —, tanto Itamar como eu estávamos profundamente emocionados. Quando ele a colocou em meu peito, brinquei:
— Itamar, quem sabe um dia eu ainda lhe devolva essa faixa…
“O Presidente me deu um abraço apertado. Éramos àquela altura muito próximos, embora depois tenhamos seguido caminhos diferentes e, por iniciativa dele, rompido relações, posteriormente em certo grau restauradas.
“De toda maneira, tinha e ainda tenho plena consciência do quanto lhe devo, porque com todas as suas ambivalências, me proporcionou, no governo e nas eleições, um apoio fundamental.
“Encerrado o ato, meu passo seguinte seria, já como Presidente, conduzir o ex-Presidente até o elevador que leva à garagem para iniciar sua viagem de partida para Juiz de Fora, sua terra. Despedimo-nos, de novo em clima de amizade e emoção.
“Esse conjunto de atos consumiu toda a tarde. Tivemos um breve período de descanso e recuperação de forças para o evento seguinte, o banquete de gala no Itamaraty — um banquete imenso, com mil e tantas pessoas, todas com traje a rigor.
“O ritual reza que o Presidente que sai, Itamar, recebe no Planalto as delegações estrangeiras que chegam para a posse, e o Presidente que assume as recepciona no Palácio do Itamaraty, juntamente com embaixadores estrangeiros, políticos, empresários, intelectuais, artistas e alguns amigos e parentes.
“O casal presidencial precisa circular pelo amplo ambiente do banquete, cumprimentar as pessoas, trocar palavras e amabilidades. Cheguei a ficar com um começo de tendinite, de tanto estender a mão — o que havia feito desde o começo do dia. Não sentia dor, porém, anestesiado de emoção e de cansaço como estava.”